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Suspensão da Tabela Salarial Única: Expectativas dos Trabalhadores e os Desafios para o Novo Governo

O debate sobre a Tabela Salarial Única , TSU, iniciado em 2022, continua a ser um dos temas mais divisivos na política e sociedade moçambicana.

A recente suspensão da TSU trouxe de volta um velho fantasma que inquieta trabalhadores do sector público e desafia o governo a apresentar soluções viáveis. Às vésperas das eleições gerais, a questão da TSU tornou-se um dos pontos centrais das campanhas eleitorais, com promessas de revisões e correções que visam equilibrar as expectativas sociais e as limitações fiscais do Estado.

A implementação da TSU, há dois anos, foi recebida com entusiasmo pelos trabalhadores do sector público, que viram na reforma uma oportunidade de maior equidade salarial. A TSU pretendia unificar os salários, promovendo justiça social entre diferentes classes de funcionários. No entanto, a medida, que prometia resolver distorções históricas, foi suspensa em meio a dificuldades fiscais, reacendendo frustrações e debates políticos. Para muitos, a TSU já se tornou um tema ultrapassado, mas o impacto da suspensão continua a ser sentido. “Quando se anunciou a suspensão, o meu primeiro pensamento foi: estamos de volta à estaca zero”, conta Manuel Nhantumbo, funcionário público em Maputo, que viu o seu salário aumentar significativamente com a TSU, apenas para ser revogado com a suspensão.

A Velha Questão da Sustentabilidade Fiscal

A suspensão da TSU está directamente ligada à sustentabilidade fiscal do país. As receitas do Estado não acompanharam as expectativas geradas pela implementação da Tabela. Para o governo, era imperativo fazer ajustes. Adriano Maleiane, Primeiro-Ministro e ex-Ministro das Finanças, tem insistido que a suspensão é temporária e visa reestruturar a TSU para ser viável a longo prazo: “Estamos a trabalhar numa solução que assegure que a TSU pode ser mantida de forma sustentável, sem comprometer as finanças públicas.”

Contudo, a confiança dos trabalhadores foi abalada. “A questão não é apenas económica, mas também política e social. O governo criou expectativas que agora parecem difíceis de sustentar”, afirma Adriano Nuvunga, politólogo e director do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD). A TSU tornou-se, assim, numa arma de dois gumes: enquanto aliviava temporariamente as tensões sociais, agravava os desafios económicos do governo.

Com as eleições gerais de 9 de Outubro iminentes, a TSU voltou ao centro do debate político. As principais forças políticas, nomeadamente a FRELIMO e a RENAMO, divergem quanto ao futuro da medida. Um deputado da FRELIMO, defendeu, em off-the-record, que a suspensão foi uma escolha necessária para garantir a sustentabilidade a longo prazo: “É fácil prometer, mas é preciso pensar na durabilidade. Não se trata de desistir da TSU, mas de garantir que ela serve o país sem comprometer as finanças.

Por outro lado, a RENAMO, através do deputado Arnaldo Chalaua, critica a falta de clareza e planeamento: “O governo falhou em gerir as expectativas. A TSU foi apresentada como a solução definitiva, e agora temos trabalhadores desiludidos, sem garantias de quando ou se esta medida voltará.” Chalaua tem apelado à reintrodução da TSU num formato que respeite os direitos dos trabalhadores e atenda às limitações financeiras do país.

O impacto da suspensão não se resume a números e orçamentos, mas reflecte-se também na vida dos trabalhadores do sector público. Antónia Machele, funcionária pública na área da saúde, sublinha que a TSU foi um alívio, ainda que temporário: “Finalmente consegui ajustar as minhas despesas ao custo de vida real. Mas agora, com a suspensão, voltamos a cortar despesas e a viver com incertezas.”

A TSU tornou-se, assim, um reflexo das limitações estruturais do Estado moçambicano, que, ao longo dos anos, tem lutado para equilibrar uma economia em crescimento moderado com as necessidades de uma população em expansão e cada vez mais exigente. Segundo Adriano Nuvunga, o impacto social da TSU foi significativo: “O governo não pode simplesmente suspender a Tabela sem alternativas. A ausência de uma política salarial clara alimenta a insatisfação social, especialmente num momento eleitoral.

Expectativas para o Novo Governo

Com a suspensão da TSU ainda no centro das discussões, as expectativas em relação ao próximo governo são altas. As eleições de Outubro prometem ser decisivas para o futuro da política salarial em Moçambique. Muitos trabalhadores do sector público esperam que o novo governo traga uma solução definitiva para a questão da TSU.

Os partidos da oposição, como a RENAMO, têm apontado a TSU como uma prioridade, prometendo retomar a sua implementação. Arnaldo Chalaua, em recente entrevista com a nossa equipe, garantiu que “o novo governo terá de mostrar compromisso com os trabalhadores. Não podemos voltar a ver uma reforma como a TSU ser suspensa sem uma alternativa clara e justa.”

Por outro lado, a FRELIMO promete manter o diálogo aberto com os trabalhadores e retomar a TSU com ajustes. Deputado da bancada parlamentar da FRELIMO que optou por animato, argumenta que “não se trata de abandonar a TSU, mas de ajustar. Temos de garantir que o futuro governo continue a buscar soluções que equilibrem as necessidades sociais e económicas do país”.

O Futuro da TSU: Revisão ou Abandono?

O futuro da TSU permanece incerto, mas uma coisa é clara: o próximo governo terá de enfrentar o debate com uma nova perspectiva. Analistas defendem que a Tabela Salarial Única poderá ser revisitada, com modificações que atendam tanto às limitações económicas como às exigências dos trabalhadores. A grande questão, no entanto, é se será possível encontrar um modelo que satisfaça ambas as partes.

Filipe Couto, economista, destaca que “o desafio está em manter a TSU de forma sustentável. O governo terá de rever não só os critérios da Tabela, mas também as fontes de financiamento. Este é um debate que não se pode dar ao luxo de adiar por mais tempo.” A TSU, longe de ser um tema do passado, continua a ser uma questão actual que desafia o governo moçambicano a encontrar soluções pragmáticas. A suspensão da Tabela Salarial Única tornou-se um símbolo das dificuldades de equilibrar promessas políticas com a realidade económica, e o próximo governo terá a tarefa hercúlea de resolver esta equação. Para os trabalhadores do sector público, a esperança reside num futuro em que a justiça salarial deixe de ser um sonho adiado e se torne numa realidade estável e sustentável.

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